Poesias de Renata Cajado

" Abrigo conhecido"

É irônico constatar

Como a vida é inconstante

quando os planos construídos

Se dissolvem num instante

Nos deixando sem saber

Como agir, como pensar

E o verbo que vigora

É soltar e aceitar

E a luta que se segue

É um desafio diário

De lutar com a gente mesmo

E nossos monstros imaginários

Onde o sonho despertou

tão carente e desiludido

que procura encontrar

um abrigo conhecido

Mas eu luto e persisto

Para encontrar uma razão

Que me faça aceitar

Toda essa equação

E eu sei, ainda vai doer

Mas é preciso aceitar o momento

Que infelizmente espera ansioso

Pela vagarosa passagem do tempo...

"Julgamento"

Ah como é fácil julgar
Assim num estalar de dedos
Revelando em segredos
O que queremos ocultar

Pois o que julgamos agora

É o nosso medo que outrora,
Pudesse surgir

O lado desumano, irresponsável
Ou profano
Do nosso próprio existir

Então antes de nós
É mais fácil atacar
As pedras e os versos
Que não queremos guardar

Em cada intenção

Do nosso lado humano
Carente, louco
Debaixo do pano

Fachadas de glória
Ocultam histórias
De quem não viveu para contar

E fracos são esses que se deixam levar...


Pois iguais todos somos
Lutando e buscando
Razões para estar

Verbo infinito
Que se esconde no grito
De quem
Tem medo de olhar (2001) .

"O Amor"

É díficil falar sobre esse sentimento
Que nos esquenta por dentro
E confunde emoções

Traz a ilusão e a grandeza
Tira o chão e a certeza
De que sobreviverá a temporais

E o amor vêm devagar
Assim sem pressa de chegar
Nos tornando todos iguais

Narra todas as histórias
Entre derrotas e vitórias
Que pudermos alcançar

Enobrece nosso caminho
Como se não houvesse espinho
Que nos pudesse machucar

Dá nos a força e a coragem
Para seguirmos nossa viagem
Sem pararmos para pensar

Que um dia irá se por
Como num último amanhecer
Amar, anoitecer e morrer. (2001) .

"Os Versos"

Qual sentido tem os versos
Que saem sem se programar
Tão impuros e dispersos
Precisando aliviar

Saber rir da dor
Entender que é passagem
E as lembranças do amor
Servem como uma miragem

Que fortalece e nos faz ver
Que as derrotas vêm e vão
E a persistência do querer
Guia nossa intuição

E que se abram os caminhos
E me deixem desfrutar
Essa minha cria ativa
Para com ela me expressar (2010) .

"Retrospecto"

Olhando o meu passado
Encontro em meus braços
O teu beijo, teu calor

Minha atitude precipitada
Me deixou irritada
Em renegar-te meu amor

Já não ia tão tranqüilo, calmo, contínuo
Sem exitar qualquer final
Você queria a todo tempo se livrar de mim
E ao mesmo tempo me amava, abraçava
Confundindo tudo em fim

Meu coração já não sentia
Que nosso conflito valeria
Tantos desgastes emocionais

Minha boca era tua
Beijava-te toda nua
Abraçando os temporais

Mas por dentro eu sabia
Que depois da chuva, o sol viria
Para secar nossos lençóis (2001) .

"Deusa"

Dói não ser deusa
Dos mares e continentes
Dos sentimentos e ações
Dos homens descrentes

Saber que o dia irá raiar
Após sua morte
E que os ventos continuarão
A narrar os tempos

Outras vidas, outros trajetos
Outros acontecimentos

Dor prazerosa que traz alivio
Deusa dos ares flutuando sem dimensão
Na perfeita imagem distorcida
Da minha imaginação (2010) .

"O Começo"

É tão doido constatar
Como somos tão iguais
Sendo homens ou mulheres
Não passamos de mortais

E cada um em seu trajeto
Rumo a esse indefinido
Traz seu traço, seu afeto
E seu desejo proibido

E o amor é um crescente
Como as fases dessa lua
Que vem manso, oscilante
Sem tecer verdade crua

Mas eu sei, eu bem conheço
Que o amor vira paixão
Quando a ausência se faz viva
Enlouquece o coração

E eu atendo seu pedido
E me ausento lentamente
Assim como faz a lua
Quando nova no poente

E quando os corpos se unirem
Novamente com saudades
Todo amor que estava oculto
Se tornará realidade... (2015)

“Hoje"

Hoje sinto que eu sou
Tão ingênua
Tão menina
Por acreditar no amor

Pois o que era a certeza
De ser tanto sentimento
Se confunde na cadência
Que oscila com o vento

Já que o amor só é real
Se doer em que o sente
Amor próprio, narcisista
Que só sabe ser carente

E o sonhado desapego
Que insiste em me tocar
Chega manso, meio azedo
Pois não quer me libertar

Mas a pura consciência
De saber da ingenuidade
Já me faz menos menina
Para olhar a realidade! (2014) .

"Sonho de leões"

Dentro do teu sonho
Eu me torno tão real
Que leões e leoninos
Não nos podem fazer mal

E uma estranha sensação
De reconhecimento
Esculpe a pedra, vagarosa
Já moldada pelo tempo

Para que na hora certa
No momento esperado
O coração que bate forte
Te coloque ao meu lado

E que possamos sempre estar
Tão inteiros, conscientes
De que tudo que existe
Se encontra no presente

E se o futuro nos deixar
Preservar o sentimento
Esse sonho de leões
Será presente todo tempo (2013) .

"Sua que sou eu"

Entendo o que sentes porque sinto
Que sou um pouco eu errando a mira
E tanto que se fosse menos isso
Seria a perfeição de uma mentira

Entendes o que eu sinto porque sentes
Que muitos dos defeitos duradouros
São causa e conseqüência do momento
Quando voltas a errar sem mais pudores

Pois somos tudo e nada, nada e tudo
Trancadas nas ciladas da história
Que insiste em ser fulgás e amorosa
Loucura de uma vida sem memória

E o amor nos leva longe e nos conduz
`A entrega de uma calma provisória
Pois tudo vale só por um momento
O eterno dissabor de uma vitória

E glória é estar nesse teu mundo
Na cama e no calor de tua essência
Mistura de sentidos que alucina
Loucura que me tira toda ausência

Por ti só não posso não ser eu
Pois foi por quem tu se apaixonaste
Se mudo para dar te esse prazer
Te perco pois me entrego a ser covarde

E nessa luta quero ser tua heroína
E por vezes assumir que sou errante
Chorando quando é dura a batalha
Sorrindo por saber que é um instante

Pois tú és ainda o que procuro
Na vida, no escuro, na estrada
Nos dados que nem sempre são exatos
Pois erram muitas vezes a jogada

E por ti quero viver e ser feliz
Brincando de errar e de aprender
Tentando encontrar no que perdi
Uma outra nova forma de viver (2005)

“Consciência"

Meu coração sofre
Por ter a consciência
De que a força que preciso
Se esconde na carência

De querer ser tão amada
Sem freios e precedentes
Um amor enlouquecido
Que precisa estar presente

E eu paro e me pergunto
Para que ser tão amada
Por alguém, que não eu
Para seguir minha jornada

No final somos nós mesmos
Nus e sós pelo caminho
Com amigos e amores
Caminhando tão sozinhos

E eu preciso encontrar
Essa força interior
Que me faça desligar
Do que me faz sentir pior

E nesse encontro equilibrado
Entre eu e o universo
Eu permito me amar
Para ser amor completo! (2014)

"Liberdade"

Amo tanto te amar
pois és fâ da liberdade
E sem a pela metade

No momento que sentimos
Que o amor é obrigação
O desejo enrustido
Vai para outra direção

Voa alto pelos ares
Sem querer jamais pousar
Sai buscando nos olhares
A chance de se realizar

E nessa busca incessante
Por achar o ideal
Nos perdemos no caminho
Entre o que não é real

Então invisto na certeza
De que o amor é liberdade
E continuo te amando
Amor livre de verdade (2013)

"Chuva "

Enquanto a chuva cai
Varrendo a escuridão
Meu coração já vai
Em outra direção

Pensando nos seus olhos
Tua boca, teu olhar
Que tanto me envolvem
Querendo te encontrar

E a chuva cai narrando
Em seu tempo desigual
E a chuva vem chovendo
Lavando todo mal

Lembrando das histórias
Que a chuva já narrou
Trovões com tantos raios
Que a noite iluminou

E quando eu paro e penso
No que ainda está por vir
Eu vejo a chuva linda
Deixando a flor florir...(2012)

" Criações"

Eu tenho a consciência
De que sou
A criação de uma mente
Que me imaginou

E como criadora
Também tenho consciência
De que tudo que eu invento
Vêm da minha experiência

Aí paro e me pergunto
Se o que eu crio também crê
Que uma mente criativa
O fez aparecer

Como se antes fosse nada
Em uma página vazia
Que a mente fértil e louca
Fez virar poesia

Mas talvez minha pergunta
Nunca seja respondida
E minha mente curiosa
Será sempre induzida

A acreditar que todos somos
Frutos da criação
De uma mente muito louca
Cheia de imaginação (2014)

"Aqueles dias"

Existem dias
Que sabemos dar e receber
Que amamos
Por existir e por saber
Que a vida
Está aqui para viver

Existem dias
Que qualquer atitude faz doer
Magoa dentro sem querer
Porque no fundo só queremos
Ser amados sem sofrer

E não basta os desafios que virão
Agora ou em outra ocasião
Viver é ter que lidar
A cada momento, sem cessar

Mesmo que eu me sinta despreparada
Um pouco só, caminhando nessa estrada
Que eu não sei onde vai dar

Mesmo que eu me sinta vitoriosa
Destemida e um pouco corajosa
Ainda assim tenho tanto a trilhar

E nesse caos que traz confusão
Me recolho em minha solidão
E reconheço que o desafio é só meu

E já que não posso mudar o mundo
Mudo meu olhar e nesse segundo
Uma magia aconteceu.(2013)

“ Maturidade “

Eu hoje questiono o que me tornei
Envolta em sonhos que tanto sonhei
Agora mulher que o tempo esculpiu
Menina teimosa que admitiu

Que deve soltar o desejo
Entender que existe um preço
Da escolha que um dia eu fiz
Escolha ingênua de ser tao feliz

Assim como a rosa que exala
Em sua verdade sua cor
Verdade tão nua e tão clara
A simples fragrância de amor

E ai só me resta aceitar
E seguir o caminho da estrada
Que existe sem ter que pensar
Pois há anos já foi trafegada

E eu simplesmente só sou
Mais um que caminha pensante
Tentando induzir em meus planos
O sonho de ser importante

A ponto de realizar
O que a menina ingênua queria
Fazer dessa vida deleite
Para tudo virar poesia

E mesmo que eu me afaste
Do sonho aéreo da arte
O resto que sobra de mim
Flutua em alguma parte (2013)

"Retrospecto racional"

E no meio do caminho
Eu me sinto tão perdida
Imersa em tantas névoas
Furacões e despedidas

Que chacoalham e abalam
Meu sistema corporal
Me trazendo tão para dentro
Num retrospecto racional

E o silêncio é evocado
Pela voz que já não fala
Submissa e compreensiva
Grita alto quando cala

E perder me faz soltar
Essa gana de querer
Que o mundo aconteça
Da forma que eu quero fazer

Então me fecho em minha concha
E assisto a vida correr
Esperando novamente
Que ela me deixe acontecer...(2013)

"Desencontros"

Existem encontros estranhos
Que chegam sem avisar
Movendo moinhos de ventos
Que chacoalham as ondas do mar

Nos trazem certeza e medo
De que vieram para ficar
Mas seus desencontros tamanhos
Nos fazem duvidar

E ai eu sigo sozinha
Amando por amar
pois sou amor em pessoa
Voando até encontrar...

O amor que eu sinto em seus olhos
Já me fazem repensar
Se és o amor que procuro
Quando te sinto oscilar

Já que se for amor
Deve persistir
Aos terremotos e furacões
E nunca desistir

Então te deixo ir embora
Te agradeço por deixar te amar
O verbo infinito vigora
Amar, amar e amar! (2013)

"Passageiros"

Olhamos a vida por dentro de um muro
Visão limitada, de um porto seguro
Que nossa cultura nos faz aprender
O inverso trajeto do que deve ser

Pois somos passagem para o desconhecido
Que ofusca a verdade do que nos foi dito
Ilude e prorroga a dor que um dia
Se fosse aceita seria alegria

Então eu prossigo para um dia encontrar
A calma sentida do meu próprio sonhar
No fundo a resposta se encontra tão dentro
Que confunde a verdade de meu sentimento

Já sei o que importa, não vou me julgar
Meu erro humano me faz viajar
Na fé que eu tenho e que só pode ser minha
Me fecho e prossigo e o tempo caminha. (2014)


"O ideal"

Hoje me perco em meu próprio querer
Que ofusca as perguntas que quero fazer
Já que essas respostas que encontro sozinho
Indicam e narram meu próprio caminho

Te quero e me iludo no meu ideal
Te amo querendo que seja real
Mas sei que não posso e nem tenho o direito
De exigir que o amor seja só do meu jeito

E é sempre essa tal de expectativa
Que traz desconforto, que traz frustração
O ego confunde e a mente vencida
Guerreia sozinha pela contramão

Entendo o amor que sentes por mim
Entendo que sentes e que não quer ver o fim
E por isso me perco nos meus sentimentos
E me sinto criança pedindo ao tempo...

Me faça mais forte capaz de entender
Que a minha vontade tambem pode ver
As coisas rolando do jeito que são
Sem dor nem remorso, nem medo do não. (2013)

"Aceitação"

E assim a vida trouxe
Já não cabe contestar
A maré é muito forte
E não há meios de nadar

Então deixo a natureza
Sempre sábia conduzir
Nas correntes a certeza
De que é preciso evoluir

E eu sei chegou a hora
Já não posso prorrogar
O boicote de outrora
Aqui já não tem lugar

E sem mágoas nem rancores
E muito menos julgamentos
Me liberto por inteira
Para seguir ao som do vento

Pois a vida me exige
Torna-te logo quem tu és
E não fuja novamente
Já que sabes o que quer

Veja os nãos pelo caminho
Como um alerta que te diz
Não desista dos seus sonhos
O sim vêm se persistir

E a vida está aí
Para a gente interpretar
Alegria ou tristeza
É só uma forma de olhar...(2014)

"Desabafo "

Nunca tive a pretensão
Nem tentei ser tão correta
Sempre andei na contramão
Procurando a minha reta

Pois eu sei somos semblantes
De um olhar particular
E o meu é simplesmente
A minha forma de olhar

E é tão louco constatar
Que envolto às diferenças
Nós humanos repetimos
Nossas próprias semelhanças

Porque somos resultados
de essências já vividas
quando nossos antepassados
conduziram suas vidas

Sem saber se era certo
O caminho que tomaram
E seguiram caminhando
Nesse passo involuntário

De viver, de ser feliz
De querer realizar
A razão de estar aqui
Sem saber onde vai dar

E no fim talvez não importe
a resposta desejada
no caminho descobrimos
que as perguntas são estradas

que nos fazem perseguir
as escolhas que fazemos
e julgar não cabe aqui
é no erro que aprendemos

E entre erros e acertos
E desejos individuais
Todas essas diferenças
Torna todos nós iguais ( 2013)





"Papel em branco"

E o papel em branco aceita
O que a mente fértil imprime
Devaneios de existência
onde o nada se define

Sou o vento que se aquieta
Ofuscando calmaria
Quando em mim não cabe nada
E o silêncio silencia

Mas a mente grita alto
E seu eco faz chover
Trovões e tempestades
Pro vazio se derreter (2014)



Presente ausente

Quanto tempo nós perdemos
procurando encontrar
o oasis de um momento
que o futuro nos trará

como se logo adiante
existisse a solução
que acalme nossa busca
pela eterna perfeição

e assim ignoramos
que só temos o agora
pois futuro é incerteza
e o passado é história (2015)



"Amar"

Penso que o amor
é como rajada de vento
nas águas que esculpem as rochas
é ócio e movimento

Penso que amar
é pura intuição
Entrega e sobrevivência
contato e proteção

penso que o amor
é como o ciclo lunar
crescente até lua cheia
tornando de novo a minguar

Penso que amar
é verbo em construção
exige que haja entrega
e siga uma só direção (2013)